quarta-feira, 29 de julho de 2009

Falhada Sinfonia

"A arte é longa, a vida é breve"- Hipócrates

Acomodo-me em meu próprio templo
e entra pelos poros a brisa,
adormecendo o corpo, elevando o espírito
despertando palavras.

Vão-se uma a uma, ecoando pelos ouvidos...
...Ao som do instrumento, num misterioso ritual,
sai a brisa, carregada de devaneios e mistura-se à tinta,
nascendo de pequenas mãos uma bela estranha criatura.

Assim, meu instrumento não é mais guiado por mim,
mas deixo-me conduzir por ele,
então movido pelas profundezas do eu criador,
que faz de suas falhas uma perfeita sinfonia.

Forma-se o ciclo, perdendo e ganhando notas,
porém, ao bom ouvido eterniza-se a melodia
e seu pulsante compasso permanece
no coração de quem respira a sagrada poesia.

S.C.P.S.

sexta-feira, 10 de julho de 2009

Os Colombos

Outros haverão de ter
o que houvermos de perder.
Outros poderão achar
o que, no nosso encontrar,
foi achado, ou não achado,
segundo o destino dado.
Mas o que a eles não toca
é a Magia que evoca
o Longe e faz dele história.
E por isso a sua glória
é justa auréola dada
por uma luz emprestada.

Fernando Pessoa

terça-feira, 30 de junho de 2009

Álvaro de Campos


Todas as cartas de amor são
Ridículas.
Não seriam cartas de amor se não fossem
Ridículas.
Também escrevi em meu tempo cartas de amor,
Como as outras,
Ridículas.
As cartas de amor, se há amor,
Têm de ser
Ridículas.
Mas, afinal,
Só as criaturas que nunca escreveram
Cartas de amor
É que são
Ridículas.
Quem me dera no tempo em que escrevia
Sem dar por isso
Cartas de amor
Ridículas.
A verdade é que hoje
As minhas memórias
Dessas cartas de amor
É que são
Ridículas.
(Todas as palavras esdrúxulas,
Como os sentimentos esdrúxulos,
São naturalmente
Ridículas.)

segunda-feira, 22 de junho de 2009

sensações

"Eu sinto uma beleza quase insuportável e indescritível.
Como um ar estrelado, como a forma informe, como o não-ser existindo, como a respiração esplêndida de um animal. Enquanto eu viver terei de vez em quando a quase não-sensação do que não se pode nomear.
Entre oculto e quase revelado. É também um desespero faiscante e a dor se confunde com a beleza e se mistura a uma alegria apocalíptica."

Clarice Lispector

"(...)Tudo é incerto e derradeiro,
Tudo é disperso, nada é inteiro..."


Fernando Pessoa

sexta-feira, 19 de junho de 2009

respirando Clarice


"Caminho até o limite do meu sonho grande.
Para onde vou?
E a resposta é: vou."


Clarice Lispector