terça-feira, 30 de junho de 2009

Álvaro de Campos


Todas as cartas de amor são
Ridículas.
Não seriam cartas de amor se não fossem
Ridículas.
Também escrevi em meu tempo cartas de amor,
Como as outras,
Ridículas.
As cartas de amor, se há amor,
Têm de ser
Ridículas.
Mas, afinal,
Só as criaturas que nunca escreveram
Cartas de amor
É que são
Ridículas.
Quem me dera no tempo em que escrevia
Sem dar por isso
Cartas de amor
Ridículas.
A verdade é que hoje
As minhas memórias
Dessas cartas de amor
É que são
Ridículas.
(Todas as palavras esdrúxulas,
Como os sentimentos esdrúxulos,
São naturalmente
Ridículas.)

segunda-feira, 22 de junho de 2009

sensações

"Eu sinto uma beleza quase insuportável e indescritível.
Como um ar estrelado, como a forma informe, como o não-ser existindo, como a respiração esplêndida de um animal. Enquanto eu viver terei de vez em quando a quase não-sensação do que não se pode nomear.
Entre oculto e quase revelado. É também um desespero faiscante e a dor se confunde com a beleza e se mistura a uma alegria apocalíptica."

Clarice Lispector

"(...)Tudo é incerto e derradeiro,
Tudo é disperso, nada é inteiro..."


Fernando Pessoa

sexta-feira, 19 de junho de 2009

respirando Clarice


"Caminho até o limite do meu sonho grande.
Para onde vou?
E a resposta é: vou."


Clarice Lispector

terça-feira, 16 de junho de 2009

o Livro inesgotável


"... dentro dessa torre há inúmeras outras torres, cada uma tão ampla e espaçosa quanto o céu e ornamentada de incontáveis maravilhas. Cada uma é distinta em si mesma, todavia, coletivamente é parte do todo, de modo que aquele que penetra na torre torna-se a torre e vê a si mesmo em tudo que ela contém."

"Tudo que for dito na treva, será ouvido na luz?"

Alberto Lins Caldas- Babel

Torre de Babel



Toda a terra tinha uma só língua, e servia-se das mesmas palavras.

Alguns homens, partindo para o oriente, encontraram na terra de Senaar uma planície onde se estabeleceram.
E disseram uns aos outros: “Vamos, façamos tijolos e cozamo-los no fogo.” Serviram-se de tijolos em vez de pedras, e de betume em lugar de argamassa.
Depois disseram: “Vamos, façamos para nós uma cidade e uma torre cujo cimo atinja os céus. Tornemos assim célebre o nosso nome, para que não sejamos dispersos pela face de toda a terra.”
Mas o senhor desceu para ver a cidade e a torre que construíram os filhos dos homens.
“Eis que são um só povo, disse ele, e falam uma só língua: se começam assim, nada futuramente os impedirá de executarem todos os seus empreendimentos.
Vamos: desçamos para lhes confundir a linguagem, de sorte que já não se compreendam um ao outro.”
Foi dali que o Senhor os dispersou daquele lugar pela face de toda a terra, e cessaram a construção da cidade.
Por isso deram-lhe o nome de Babel, porque ali o Senhor confundiu a linguagem de todos os habitantes da terra, e dali os dispersou sobre a face de toda a terra.

Gn 11,1-9

domingo, 14 de junho de 2009

Se

Se és capaz de manter tua calma, quando
todo mundo ao redor já a perdeu e te culpa.
De crer em ti quando estão todos duvidando,
e para esses no entanto achar uma desculpa.

Se és capaz de esperar sem te desesperares,
ou, enganado, não mentir ao mentiroso,
Ou, sendo odiado, sempre ao ódio te esquivares,
e não parecer bom demais, nem pretensioso.

Se és capaz de pensar - sem que a isso só te atires,
de sonhar - sem fazer dos sonhos teus senhores.
Se, encontrando a Desgraça e o Triunfo, conseguires,
tratar da mesma forma a esses dois impostores.

Se és capaz de sofrer a dor de ver mudadas,
em armadilhas as verdades que disseste
E as coisas, por que deste a vida estraçalhadas,
e refazê-las com o bem pouco que te reste.

Se és capaz de arriscar numa única parada,
tudo quanto ganhaste em toda a tua vida.
E perder e, ao perder, sem nunca dizer nada,
resignado, tornar ao ponto de partida.

De forçar coração, nervos, músculos, tudo,
a dar seja o que for que neles ainda existe.
E a persistir assim quando, exausto, contudo,
resta a vontade em ti, que ainda te ordena: Persiste!

Se és capaz de, entre a plebe, não te corromperes,
e, entre Reis, não perder a naturalidade.
E de amigos, quer bons, quer maus, te defenderes,
se a todos podes ser de alguma utilidade.

Se és capaz de dar, segundo por segundo,
ao minuto fatal todo valor e brilho.
Tua é a Terra com tudo o que existe no mundo,
e - o que ainda é muito mais - és um Homem, meu filho!

Rudyard Kipling

sexta-feira, 12 de junho de 2009


— E você, por que desvia o olhar?

(Porque eu tenho medo de altura. Tenho medo de cair para dentro de você. Há nos seus olhos castanhos certos desenhos que me lembram montanhas, cordilheiras vistas do alto, em miniatura. Então, eu desvio os meus olhos para amarra-los em qualquer pedra no chão e me salvar do amor. Mas, hoje, não encontraram pedra. Encontraram flor. E eu me agarrei às pétalas o mais que pude, sem sequer perceber que estava plantada num desses abismos, dentro dos seus olhos.)

— Ah. Porque eu sou tímida.

Rita Apoena


Um feliz dia dos namorados para todos os que já encontraram sua alma gêmea!

Aos que passam o dia de hoje sozinhos, não desanimem, pois as melhores coisas acontecem quando não as premeditamos...

;D

quarta-feira, 10 de junho de 2009

Precious Illusions

Adoro esse clipe da Alanis!
Dia 12 chegando, logo, quem não vai ganhar presente vai lembrar de um bom motivo para não ficar triste...

                                

;D

quinta-feira, 4 de junho de 2009

Água Viva

"(...) Oh, como tudo é incerto. E no entanto dentro da Ordem. Não sei sequer o que vou te escrever na frase seguinte. A verdade última a gente nunca diz. Quem sabe da verdade que venha então. E fale. Ouviremos contritos.
... eu o vi de repente e era um homem tão extraordinariamente bonito e viril que eu senti uma alegria de criação. Não é que eu o quisesse para mim assim como não quero o menino que vi com cabelos de arcanjo correndo atrás da bola. Eu queria somente olhar. O homem olhou um instante para mim e sorriu calmo: ele sabia o quanto era belo e sei que sabia que eu não o queria para mim. Sorriu porque não sentiu ameaça alguma. É que os seres excepcionais em qualquer sentido estão sujeitos a mais perigos que o comum das pessoas. Atravessei a rua e tomei um táxi. A brisa arrepiava-me os cabelos da nuca. E eu estava tão feliz que me encolhi no canto do táxi de medo porque a felicidade dói. E isto tudo causado pela visão do homem bonito. Eu continuava a não querê-lo para mim - gosto é das pessoas um pouco feias e ao mesmo tempo harmoniosas, mas ele de certa forma dera-me muito com o sorriso de camaradagem entre pessoas que se entendem. Tudo isso eu não entendia.
A coragem de viver: deixo oculto o que precisa ser oculto e precisa irradiar-se em segredo.
Calo-me.
Porque não sei qual é o meu segredo. Conta-me o teu, ensina-me sobre o secreto de cada um de nós. Não é segredo difamante. É apenas esse isto: segredo.
E não tem fórmulas.
(...)"

Clarice Lispector

quarta-feira, 3 de junho de 2009

[...]

"(...) Sobretudo, pensou ainda, compreende a vida porque não é suficientemente inteligente para não compreendê-la (...)"

Clarice Lispector- Perto do Coração Selvagem