sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Plenitude


Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos,
e não tivesse amor,
seria como o metal que soa ou como o sino que tine.
E ainda que tivesse o dom de profecia,
e conhecesse todos os mistérios e toda a ciência,
e ainda que tivesse toda a fé,
de maneira tal que transportasse os montes,
e não tivesse amor, nada seria.
E ainda que distribuísse toda a minha fortuna para sustento dos pobres,
e ainda que entregasse o meu corpo para ser queimado,
e não tivesse amor,
nada disso me aproveitaria.

O amor é sofredor, é benigno;
o amor não é invejoso;
o amor não trata com leviandade,
não se ensoberbece.

Não se porta com indecência,
não busca os seus interesses,
não se irrita, não suspeita mal;

Não folga com a injustiça, mas folga com a verdade;

Tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta.
O amor nunca falha; mas havendo profecias, serão aniquiladas;
havendo línguas, cessarão;
havendo ciência, desaparecerá;
Porque, em parte, conhecemos, e em parte profetizamos;
Mas, quando vier o que é perfeito, então o que o é em parte será aniquilado.
Quando eu era menino, falava como menino, sentia como menino, discorria como menino, mas, logo que cheguei a ser homem, acabei com as coisas de menino.
Porque agora vemos por espelho em enigma, mas então veremos face a face;
agora conheço em parte,
mas então conhecerei como também sou conhecido.

Agora, pois, permanecem a fé, a esperança e o amor, estes três,
mas o maior destes é o amor.


Coríntios 13

terça-feira, 25 de agosto de 2009

Gregório



À instabilidade das cousas no mundo

Nasce o Sol, e não dura mais que um dia,
Depois da luz se segue a noite escura,
Em tristes sombras morre a formosura,
Em contínuas tristezas a alegria.

Porém se acaba o Sol, por que nascia?
Se formosa a luz é, por que não dura?
Como a beleza assim se transfigura?
Como o gosto da pena assim se fia?

Mas no Sol e na luz, falta a firmeza,
Na formosura não se crê constância,
E na alegria sinta-se tristeza.

Começa o mundo enfim pela ignorância,
E tem qualquer dos bens por natureza
A firmeza somente na inconstância.

Gregório de Matos

domingo, 23 de agosto de 2009

Que loucura



Tenho pressa pra chegar
Pressa de ir pra outro lugar
Em que possa me sentir
Dentro de uma bolha
Que flutua por aí
Pare de me perguntar
Onde eu quero chegar
Sinto que só quero ir
Em cima de um tapete
Que flutua por aí
Isso é uma loucura
Minha razão de existir
É ter você sempre aqui
Do meu lado e por que não?
Vem comigo num domingo
Voar no meu balão
Isso é uma loucura

Cachorro Grande

;D



“À duração da minha existência dou uma significação oculta que me ultrapassa. Sou um ser concomitante: reúno em mim o tempo passado, o presente e o futuro, o tempo que lateja no tique-taque dos relógios."
Clarice Lispector

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Paredes Vermelhas


  Desejou tantas vezes estar ali novamente, mas, quando esteve, achou tudo muito diferente. Nenhuma explicação para tanta destruição. Certificou-se de que a porta não estava arrombada. As janelas permaneceram trancadas. As paredes continuavam vermelhas e intactas. Mesmo com luzes acesas, a obscuridão lhe trazia medo e o vazio daquela sala invadia o seu interior. Em lugar da paz que ali encontrava, angústia. À medida em que fechava e abria os olhos, o espaço tornava-se cada vez menor. 

  Ficou parada, porém, já não podia respirar. As paredes encolhiam a sala.

  Decidiu não mais abrir os olhos. Entregou-se à aflição da espera pelo fim e vieram-lhe à mente todas as outras vezes que ali esteve: as pequenas felicidades, a brisa e a luz que entravam pela janela nos dias de sol, como música vinda de longe.
  Aos poucos, a sonoridade entrou pelos seus ouvidos e sentiu o calor dos raios de sol batendo em seu rosto. 
  Agora, sem medo, abria os olhos, ao mesmo tempo em que seu coração se enchia. Aquele lugar estava tão espaçoso e iluminado que desejou nunca mais sair dali.

Não era o fim, mas apenas o grande começo.

S.C.P.S.