segunda-feira, 4 de julho de 2011

Maratona



    Queria simplesmente poder não pensar muito sobre o significado da vida, porém, às vezes a mente força a isso, mesmo (ou principalmente) quando já estava prestes a dormir.
    A vida: um sopro, uma passagem, uma viagem de trem, um livro com páginas em branco... Será mesmo tão fácil aceitar essas metáforas? Será que elas nos satisfazem a ponto de nos tranquilizar sobre o futuro? Não a mim.
   Procuro, então, fazer minha própria metáfora sobre a vida, por vários momentos, e não consigo. Talvez possa aceitá-la como uma maratona ao inverso, já que queremos ser sempre os últimos a chegar.
   Ponto de partida: estamos sadios, fortes, cheios de energia e nem temos a noção do quanto virá a ser percorrido, muito menos das dificuldades durante o percurso. Todos nos cercam, entusiasmados e cheios de expectativas sobre nossas vitórias.
   Porém, olhamos para os lados e não enxergamos nosso grande concorrente: o tempo. Ao longo do percurso, descobrimos que será impossível derrotá-lo, damos cada passo com um desejo enorme de que ele passe por nós bem devagar. Às vezes, nos esquecemos do quanto ele é veloz e, quando levamos os  piores tombos, queremos que cada segundo passe ainda mais depressa para que possamos nos reerguer e continuar a corrida. 
  Vamos nos aproximando do meio da corrida e começam as dores, a angústia de vencer os obstáculos, cometemos erros de percurso e muitos já deixaram de nos acompanhar. Outros apenas acompanham para esperar por algum tropeço. Outros, ainda, simplesmente surgem para nos dar apoio e depois se vão.
  Alguns de nossos torcedores, aqueles que mais acreditam em nós, nos acompanham fielmente desde o ponto de partida, a todo instante, e são os primeiros a nos motivar a seguir em frente.
  Aproxima-se o final da corrida e chega o cansaço. Aqueles que nos acompanharam desde o início e seguiram cada passo que demos, já se foram, pois também tiveram suas maratonas completadas. Eles deixam em nós a vontade de vencer e deixá-los orgulhosos. Alguns chegam durante o percurso e semeiam novamente em nós o ânimo para seguir em frente. Nossos passos se tornam mais lentos e já não temos as mesmas expectativas e o entusiasmo de antes, mas, temos a certeza de que chegaremos honrosos ao final do percurso, por nossa coragem, nossa ousadia e por todos aqueles que estiveram ao longo do caminho torcendo muito por nós.
  O que virá depois? É algo que só saberemos na linha de chegada. O meu grande sonho é que todos, mesmo aqueles que tenham ido embora logo após o ponto de partida, estejam de braços abertos, muito felizes, esperando por nós.

S.C.P.S.

quarta-feira, 15 de junho de 2011

Ode de Ricardo Reis

Segue o teu destino, 
Rega as tuas plantas, 
Ama as tuas rosas. 
O resto é a sombra 
De árvores alheias.

A realidade 
Sempre é mais ou menos 
Do que nós queremos. 
Só nós somos sempre 
Iguais a nós-próprios.

Suave é viver só. 
Grande e nobre é sempre 
Viver simplesmente. 
Deixa a dor nas aras 
Como ex-voto aos deuses.

Vê de longe a vida. 
Nunca a interrogues. 
Ela nada pode 
Dizer-te. A resposta 
Está além dos deuses.

Mas serenamente 
Imita o Olimpo 
No teu coração. 
Os deuses são deuses
Porque não se pensam.

Fernando Pessoa

terça-feira, 14 de junho de 2011

apenas uma reflexão.

  Existem muitos outros universos dentro do único que acreditamos veementemente existir. Podemos dizer, então, que, englobando todos os universos, o que existe é um "multiverso". 
 Dentro de cada universo maior, está o mundo, e, dentro do mundo, pequenos mundos subdivididos em outros tantos universos, únicos, alguns explorados com facilidade e outros que apenas todos julgam conhecer. Para cada universo menor (porém, de dimensão infinita), os outros que existem, apesar de serem os mesmos, são diferentes. 
  A vida, então, é um verdadeiro encontro e desencontro de universos.
  A dificuldade em tudo isso é atingir os universos, que, ainda que tão próximos, são inatingíveis.
  Quem souber, que ensine como.


S.C.P.S.

domingo, 5 de junho de 2011

a nós, seres limitados

  O caos sempre se dispõe fielmente a trazer respostas passadas, iluminar o trajeto e tornar o trecho mais à frente visível, por várias fases, como em uma espiral. Uma visão muito clara, porém, triste, que não vai além dos limites que tanto se busca enxergar e que traz conclusões confusas a respeito do sentido de todas as coisas, além da incerteza de até onde o futuro atenderá nossas expectativas. 
   Há um ponto onde sonhos e limites se encontram.
  Existem limites que percorrerão todo o trajeto conosco para serem atravessados uma única vez. Saber que eles existem e que nunca conseguiremos definir como e onde o encontraremos, e, principalmente, a certeza de que um dia pisaremos sua linha, traçada tortuosamente por nós mesmos ao longo do caminho, é o que nos deixa com a sensação de andarmos o tempo todo contornando a beira do abismo, tentando manter o equilíbrio.


S.C.P.S.

segunda-feira, 30 de maio de 2011

Virginiana

  É bem provável que você faça uma imagem de mulher delicada, frágil e virginal dessa mulher. Bom, não é bem assim. Na realidade, não é nada assim. As virginianas fazem coisas que nós nunca esperaríamos que elas fizessem. Não é que elas sejam imprevisiveis. Elas agem naturalmente, você é que enxerga errado.
  É realmente de ficar de queixo caído com a capacidade das virginianas de ser absolutamente o oposto do que a sua aparência indica. Ela é capaz de enfrentar sozinha um mundo hostil, desbravar o último pedaço virgem da amazonia e procurar pela última espécie de arara azul só para provar que elas ainda existem. Elas parecem porcelana, mas a espinha é de titânio.
  Eis o seguinte. A mulher de virgem tem uma visão clássica do amor. E ela é tão pura quanto as águas que nascem nos alpes suíços. Portanto se os olhos dela enxergarem em você imperfeições que batalham com um amor sem falhas que ela acredita ter conhecido ontem, ela não vai hesitar em romper laços antigos. E quando a virginiana termina um relacionamento, o que é fatalmente doloroso, não vê porque amenizar seu corte cirúrgico com anestésicos. Dor dói, não importa o quanto. E o seu conceito de relacionamento é mais coerente e irrefutável do que qualquer documento legal. Ela sabe ser mortalmente prática e divinamente romântica, ao mesmo tempo.
  Quando marcar um encontro com a sua amada virginiana, tome o cuidado de não se atrasar. Elas são as discipulas da organização, eficiência e pontualidade. Não se atrase a menos que queira estragar as coisas. Elas não vão fazer estardalhaço e muito barulho. Mas as virginianas sabem ser beeeeem desagradáveis. Dou a solução: colha algo da natureza para presentea-la, admita o erro e não discuta mais. Você não pode vence-la. Espere. Espere. Espere. Pronto, ela está ótima de novo e nem importa quem venceu.
  Treine em casa algumas palavras antes de lidar com virginianas que prezam por uma boa gramática. Não seje, nem menas e nada pra mim dizer. É fundamental. Esteja bem aprensentado, cabelo e barba no lugar, todo trabalhado na impecabilidade. O senso dela de limpeza e organização transita em todos os lugares, inclusive em você.
  Não a atormente apertando-a por ai, não fique de beijos demais, não faça espetáculos. Com a virginiana é devagar, graciosamente e com charme. Uma vez que você a tenha, elas serão fiéis assim como são leais a sua idéia de amor e relacionamento. Se ouvir de alguma virginiana que ela traiu alguém, é muito provável que tenha durado muito pouco e aconteceu apenas para ela provar algo para si mesma. Se elas cometem deslizes, sabem enconbri-lo com maestria.
  Mas apesar da meticulosidade aborrecida, da chatisse dos dias de chatisse e de seu poder de criticar sem medo, o que você faria sem essa virginiana, né verdade? Há algo de louvável em sua precisão e exigências. Inegavelmente te faz alguém melhor. O jeito tímido e olhos convictos reservam uma inteligência encatadora impossivel de resistir, principalmente depois que ela esboça um sorriso e, de repente, parece que ela não é nada mais que nada.
  Mas para alguém que ama esta espécie e, principalmente, sente a mão dela em sua própria vida... ela é tudo.
  Sutilmente indispensável.
  Estou certo?


   Por Eduardo Aguiar (via Facebook)