quarta-feira, 15 de junho de 2011

Ode de Ricardo Reis

Segue o teu destino, 
Rega as tuas plantas, 
Ama as tuas rosas. 
O resto é a sombra 
De árvores alheias.

A realidade 
Sempre é mais ou menos 
Do que nós queremos. 
Só nós somos sempre 
Iguais a nós-próprios.

Suave é viver só. 
Grande e nobre é sempre 
Viver simplesmente. 
Deixa a dor nas aras 
Como ex-voto aos deuses.

Vê de longe a vida. 
Nunca a interrogues. 
Ela nada pode 
Dizer-te. A resposta 
Está além dos deuses.

Mas serenamente 
Imita o Olimpo 
No teu coração. 
Os deuses são deuses
Porque não se pensam.

Fernando Pessoa

terça-feira, 14 de junho de 2011

apenas uma reflexão.

  Existem muitos outros universos dentro do único que acreditamos veementemente existir. Podemos dizer, então, que, englobando todos os universos, o que existe é um "multiverso". 
 Dentro de cada universo maior, está o mundo, e, dentro do mundo, pequenos mundos subdivididos em outros tantos universos, únicos, alguns explorados com facilidade e outros que apenas todos julgam conhecer. Para cada universo menor (porém, de dimensão infinita), os outros que existem, apesar de serem os mesmos, são diferentes. 
  A vida, então, é um verdadeiro encontro e desencontro de universos.
  A dificuldade em tudo isso é atingir os universos, que, ainda que tão próximos, são inatingíveis.
  Quem souber, que ensine como.


S.C.P.S.

domingo, 5 de junho de 2011

a nós, seres limitados

  O caos sempre se dispõe fielmente a trazer respostas passadas, iluminar o trajeto e tornar o trecho mais à frente visível, por várias fases, como em uma espiral. Uma visão muito clara, porém, triste, que não vai além dos limites que tanto se busca enxergar e que traz conclusões confusas a respeito do sentido de todas as coisas, além da incerteza de até onde o futuro atenderá nossas expectativas. 
   Há um ponto onde sonhos e limites se encontram.
  Existem limites que percorrerão todo o trajeto conosco para serem atravessados uma única vez. Saber que eles existem e que nunca conseguiremos definir como e onde o encontraremos, e, principalmente, a certeza de que um dia pisaremos sua linha, traçada tortuosamente por nós mesmos ao longo do caminho, é o que nos deixa com a sensação de andarmos o tempo todo contornando a beira do abismo, tentando manter o equilíbrio.


S.C.P.S.

segunda-feira, 30 de maio de 2011

Virginiana

  É bem provável que você faça uma imagem de mulher delicada, frágil e virginal dessa mulher. Bom, não é bem assim. Na realidade, não é nada assim. As virginianas fazem coisas que nós nunca esperaríamos que elas fizessem. Não é que elas sejam imprevisiveis. Elas agem naturalmente, você é que enxerga errado.
  É realmente de ficar de queixo caído com a capacidade das virginianas de ser absolutamente o oposto do que a sua aparência indica. Ela é capaz de enfrentar sozinha um mundo hostil, desbravar o último pedaço virgem da amazonia e procurar pela última espécie de arara azul só para provar que elas ainda existem. Elas parecem porcelana, mas a espinha é de titânio.
  Eis o seguinte. A mulher de virgem tem uma visão clássica do amor. E ela é tão pura quanto as águas que nascem nos alpes suíços. Portanto se os olhos dela enxergarem em você imperfeições que batalham com um amor sem falhas que ela acredita ter conhecido ontem, ela não vai hesitar em romper laços antigos. E quando a virginiana termina um relacionamento, o que é fatalmente doloroso, não vê porque amenizar seu corte cirúrgico com anestésicos. Dor dói, não importa o quanto. E o seu conceito de relacionamento é mais coerente e irrefutável do que qualquer documento legal. Ela sabe ser mortalmente prática e divinamente romântica, ao mesmo tempo.
  Quando marcar um encontro com a sua amada virginiana, tome o cuidado de não se atrasar. Elas são as discipulas da organização, eficiência e pontualidade. Não se atrase a menos que queira estragar as coisas. Elas não vão fazer estardalhaço e muito barulho. Mas as virginianas sabem ser beeeeem desagradáveis. Dou a solução: colha algo da natureza para presentea-la, admita o erro e não discuta mais. Você não pode vence-la. Espere. Espere. Espere. Pronto, ela está ótima de novo e nem importa quem venceu.
  Treine em casa algumas palavras antes de lidar com virginianas que prezam por uma boa gramática. Não seje, nem menas e nada pra mim dizer. É fundamental. Esteja bem aprensentado, cabelo e barba no lugar, todo trabalhado na impecabilidade. O senso dela de limpeza e organização transita em todos os lugares, inclusive em você.
  Não a atormente apertando-a por ai, não fique de beijos demais, não faça espetáculos. Com a virginiana é devagar, graciosamente e com charme. Uma vez que você a tenha, elas serão fiéis assim como são leais a sua idéia de amor e relacionamento. Se ouvir de alguma virginiana que ela traiu alguém, é muito provável que tenha durado muito pouco e aconteceu apenas para ela provar algo para si mesma. Se elas cometem deslizes, sabem enconbri-lo com maestria.
  Mas apesar da meticulosidade aborrecida, da chatisse dos dias de chatisse e de seu poder de criticar sem medo, o que você faria sem essa virginiana, né verdade? Há algo de louvável em sua precisão e exigências. Inegavelmente te faz alguém melhor. O jeito tímido e olhos convictos reservam uma inteligência encatadora impossivel de resistir, principalmente depois que ela esboça um sorriso e, de repente, parece que ela não é nada mais que nada.
  Mas para alguém que ama esta espécie e, principalmente, sente a mão dela em sua própria vida... ela é tudo.
  Sutilmente indispensável.
  Estou certo?


   Por Eduardo Aguiar (via Facebook) 


  

domingo, 29 de maio de 2011

ao passado

  "(...)
  O meu passado é tudo quanto não consegui ser. Nem as sensações de momentos idos me são saudosas: o que se sente exige o momento; passado este, há um virar de página e a história continua, mas não o texto."

  Fernando Pessoa